quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Querer

Estava mesmo difícil construir castelos. O delírio não conseguia nem ao menos imaginar recantos. A estrada comprida permitia possíveis sonhos, mas... O pé na areia da praia, a porta da sacada aberta para a grama, os negros de olhos verdes à beira da janela não davam brilho ao devaneio. Trabalho, sala de aula, companheiro amigo, vinho. Queria acender mais um cigarro, embora não pudesse. Até o veneno que acompanhava as lágrimas deixou de estar presente. Enfiaria a cabeça num buraco, se conseguisse. Mas a chuva que caiu naquela cidade enfadonha conseguiu até mesmo escondê-los. Pensou no que queria, e se queria! Não podia querer, porque os desejos já não eram os mesmos. Quanta energia gasta na tentativa de construir os castelos, e nem mesmo uma casa de madeira conseguiu erguer. Talvez se a casa de madeira tivesse sido erguida fosse mais fácil deixar tudo pra trás. O fogo não foi suficiente pra incendiar as vigas que deram sustentação aos sonhos. Mas a água jorrada pelos olhos acabou destruindo tudo; limpou a terra das cinzas produzidas pelas chamas, levando tudo aquilo que ainda insistia em ficar de pé!

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