terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mais nada!

Dia diferente, este.
Porque não havia sido esperado!
Desejo refletido, e mais nada...
Estranha sensação de ter só o corpo, transpirado, pesado.
Não queria que fosse assim.

Apenas desejava ser amada.
E o prazer do toque, do encontro, da língua nos lábios.
Foi desejo refletido. Mais nada!


sábado, 24 de janeiro de 2009

Na sua estante

Te vejo errando e isso não é pecado
Exceto quando faz outra pessoa sangrar
Te vejo sonhando e isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar

Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar ao menos mande notícias
Cê acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar

Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

Você tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido

Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante
Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu

Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar a minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não seguram
E essa abstinência uma hora vai passar...

Pitty

Negação do amor


O dia amanheceu diferente...
Da janela, uma pequena fresta de luminosidade.
Hora de levantar, acordar pro mundo.
Sentia-se anestesiada. Alguma coisa havia mudado.
Sensação igual a essa já tinha vivido há tempo, muito tempo.
Teve de renunciar ao amor para reviver.
Mas agora algo havia mudado.
Quando da primeira vez ouviu que o amor acabara, não acreditou.
Teve força para resistir e um fio de esperança para tentar.
Quando da segunda vez ouviu que o amor acabara, decidiu.
O amor de fato acabara.
Do outro lado da cidade, o talvez algum dia deixou de fazer sentido...
O amor de fato acabara.
Então levantou, organizou suas coisas, tomou café, fez companhia aos gatos.
A água do chuveiro fez escorrer o peso que o corpo carregara.
Gotas e gotas de restos foram escorrendo pela pele, perdendo-se na poça acumulada.
Já não conseguia chorar. A tristeza tinha passado...
Então respirou fundo, olhou pela janela, sentiu-se plena, cheia de vontade, desejos, sonhos.
Aquele amor de fato acabara.
Conseguiu suportar a negação do primeiro amor.
Conseguiu aceitar a negação do segundo amor.
Conseguiu rejeitar a negação do terceiro amor, ou a possibilidade.
O talvez algum dia também acabara.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Mergulhão


Não imaginava o quanto sofreria ao ter de refazer as malas.
Não sabia o quanto tinha errado, até o momento exato de perceber seus erros.
Queria poder evitá-los, de forma que as malas não precisassem ser refeitas.
Mas não evitou, e agora, era tempo de partir.
Chegou a olhar para trás, tentando encontrar um céu azul na paisagem.
O céu azul era cinza, cheio de névoa.
Ao longe, um pássaro que precisava voar, já que há tanto tempo estava aprisionado.
Queria ter asas para voar junto com ele, e até tinha.
Mas enquanto ele era um Mergulhão, acostumado ao contato com mar,
ela era um filhote de ave na busca por sua identidade,
ainda aprendendo a nadar nas poças de água que a chuva deixava na estrada.
Experenciou seus primeiros movimentos na água, ao lado dele.
Teria, agora, de experenciá-los sozinha,
aprender a viver, a gostar de viver, sem aquele grande pássaro que foi sua companhia. Não sonhava em ser igual ao Mergulhão, mas alçar grandes vôos e cair na água do mar em presença dos peixes, como seu companheiro faria.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Ausência de chão


D. Mãos do Campeche, 2008

Partiu! Mais uma vez partiu, e preferiu deixar a tentar.
Talvez porque não pudesse, de fato, dar as repostas.
Talvez porque que não quisesse mais.
O chão novamente foi saindo de seus pés, e deixou um buraco enorme.
Foi difícil, no passado, tapar o mesmo buraco.
E agora faltava a terra que a tempestade carregou.
Teria tentado não deixar o buraco abrir, mas isso se não tivesse percebido os sinais,
ou quem sabe a ausência deles.
E durante toda a tarde ficou pensando no seu fracasso, na sua incapacidade de preencher aquele coração por quem se apaixonara, por quem sentira amor.
Mas até mesmo o amor quer ser amado, não se sustenta na solidão, não consegue carregar nas costas o peso que as palavras não ditas podem ter.
E o conforto chega junto com a necessidade de destruir seus monstros, já que o pedido de ajuda não pôde ser atendido.
É preciso tirar o nó das costas, e talvez mais ainda da garganta.
É preciso esfacelar o monstro em mil pedaços de maneira que ele não mais possa se recompor.
Mas isso terá de ser feito na ausência das mãos, já que não foi capaz de fazê-las resistirem à dor que provocou sem querer.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Que tempo é esse?

Que tempo é esse que passa sem ser possível deixar?
Quantos projetos foram pensados e não saíram das idéias!
Não foi assim que os desejos se fizeram nas noites!
Há um grito sem som, há um choro sem lágrimas, há uma ferida sem dor.
Porque o vazio permite o nada, a ansiedade teme a espera, e os momentos de agora não são suficientes para esquecer o futuro.
Ele anda à frente, sem olhar para trás.
No caminho, pedras, barro, verde que corta e sangra.
A presença é ausente; o toque, imperceptível.
Queria ter a certeza de que tudo não passou de impressão.
Queria não ter visto as imagens...
Ele se vai e deixa quem fica.
Não se esforça para não haver um ficar. Some no meio da mata, deixando o som de seus pés a andar, a andar.
Há muito sonhou que corria atrás, descalça, sentindo as pedras cortando-lhe a pele.
Hoje, continua correndo, mas a distância parece maior...
Não consegue alcançar a mão, não consegue sentir o cheiro.
E a presença parece apenas um protelar da ausência...
Quis construir uma casa, uma vida, uma família.
Quis ganhar um abrigo, mas também abrigar.
Não conseguiu, tem certeza.
E a história termina sem ter chegado ao fim.