quinta-feira, 31 de maio de 2018

Try a little tenderness

O tempo passa e no vai e vem das horas, escorrem pelos dedos a água salgada dos olhos, ardentes ainda pelas surpresas que ela custava em acreditar. Não foi o amor perdido, a vida sobressaltada pelo final estúpido, a mudança repentinamente esperada. Foi a perda do amigo, do companheiro de uma vida que escorregadiamente deixou a memória de ambos pra trás. Ela queria esquecer, mas volta e meia o pânico a assombrava. Era como se não pudesse acreditar em mais nada. Queria se recuperar. Havia amado, construído uma história, bonita, intensa, difícil, entrecortada por tudo aquilo que pode marcar duas almas, do belo à feiura odiosa do ser. Volta e meia ela se pegava no pesadelo. Lembrava daquele antigo amor e amigo que lhe foi desleal. E a ternura, sentimento tão simplesmente perseguido, era substituída pela dor. 

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Quando o sono espalha

Dois passos e um, aquele toque de mãos.
Ficava a contemplar suas formas, beleza posta nos traços mais sutis.
Me perdia no encanto da silhueta, com seu antebraço na direção. 
E o sorriso de lado, meio travesso e marcado, fazia com que eu mordesse os lábios, com vontade de rir. 
Que forças nos aproximaram assim? Por qual razão? 
Era possível encontrar uma alma tão ligada à vida que me fizesse sentir o amor? 
O amor... 
Calmo, bruto, desejado. 
Depois de uma noite, bailado, quando corpos quaisquer não aguentariam mais... 
Mas a vontade era forte, e no dizer de seus lábios: “o sono espalha”! 
E espalhou! Pela cama e os lençóis.

PS. 
Covinhas (s.f)

É quando o universo cava no seu rosto um espaço a mais para você sorrir. É a alegria fazendo morada em você. É a tatuagem mais bonita do seu corpo (para mim, suas linhas de expressão). São dois pontos que eu faço questão de ligar com uma piada boba ou uma gracinha idiota. Não me culpe por querer te fazer sorrir, a culpa é das covinhas.

São as duas aspas que fazem, do seu sorriso, poesia.

João Doerderlein (@akapoeta), em O livro dos ressignificados.