sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Tomas


Seus olhos eram intensos, assim como toda a ternura quando deitavas em mim.
Não tive a esperteza de olhá-lo como merecias, tal como fizestes durante todos esses anos...
Só consigo lembrar daquele olhar perdido do seu último dia, sem forças para sequer me reconhecer.
Mas espero, onde que quer que estejas, que perdoes a minha incapacidade.
Que tenhas se sentido amado, porque você de fato foi...
Já faz quase um ano que partistes e deixastes tanta saudade...
Daria tudo para tê-lo ao meu lado, com a cabeça em meu ombro e sua pegada suave em meu peito.
Daria tudo para sentir as suas cabeçadas e o calor do seu corpo pequeno nas noites de frio. Daria tudo para ter mais tempo contigo e retribuir todo o amor que você me deu...

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Macaquinho

Minha querida, hoje eu sonhei com você. Não sei por qual razão estávamos em casa e parecias vivinha. Papai chegou de repente, o que foi uma grande surpresa. Era tudo tão familiar...
E você ali correndo pela casa... Eu me perguntava: 
Como podia ser? E aquele homem, abrindo a porta da sala como se tivesse chegado de um dia exaustivo no trabalho...
Eu perguntava a ele:
- Por qual razão você está aqui? E por qual razão a minha preta está viva, correndo por todos os espaços?
Ele respondia:
- Preferi te dar um presente, deixar que ela fosse aos poucos, de forma bem natural... Esse remedinho vai deixá-la tranquila!
E ela corria pela casa, arrebatada pela presença de um macaquinho que entrou pela janela e se confundia com ela.
- Macaquinho, macaquinho! Ela gritava!
- Macaquinho, macaquinho!
E nós tentávamos alcançá-lo para que fosse devolvido ao ambiente, se libertasse.
Enfim ele pulou da sacada, se agarrou numa árvore e sumiu.
E você ficou ali, no meu colo, com aquele pêlo macio e pretinho, me dando tranquilidade e paz!
O homem, estava tão próximo e ao mesmo tempo distante. A indiferença se misturava com os arroubos de delicadeza, nada que eu não estivesse acostumada, ainda que toda a situação fosse incômoda, triste, revelando ainda mais que todo o amor que eu senti foi projetado sobre um personagem que talvez eu mesma tenha construído.
Ele falava de sua vida, de seus amores, como se tudo fosse muito normal!
Era o vazio, mas ainda assim você estava ali, no meu colo, com seu pêlo macio e pretinho, me dando tranquilidade e paz!
Já acordada eu pensava sobre o sonho. Talvez o macaquinho de pelúcia entregue com a mudança tenha me deixado verdadeiramente incomodada. Não pedi que ele viesse, que entrasse em meus dias. Ele precisava ser posto na sacada para que pulasse fora dali, ou com o vento ou com a força de meus braços.

Bianca

Como abrandar a dor dessa ausência que jamais irá passar? Como não sentir sua falta diante de tantos momentos excepcionais vividos ao teu lado?
Espero que você me perdoe por ter atropelado a natureza, fazendo-a partir.
Espero que você tenha sentido o tanto do amor que eu tinha por você.
Ele está aqui, no meu peito cheio de saudades. 
Ele está aqui, na memória onde flutuam as experiências mais felizes proporcionadas por ti.
Pule, corra, brinque, rebole, dê cabeçadas no infinito, porque agora o infinito é todo seu!!!

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Foi ele

O homem cheio de surpresas se desloca para encontrá-la.
Ela não sabe o que vai acontecer, e nem ao menos calcula qualquer atitude.
À vista, amigos cheios de intimidade e dor.
À espreita, um medo quase infantil de se sentir viva novamente.
Foi ele quem no dia menos pretensioso de um inverno, trouxe-lhe um feixe de luz e a fez dançar.
Foi ele quem no dia mais doloroso do ano lhe arrebatou com um beijo inesperado, quando o outro não estava ali.
Foi ele quem mais uma vez surgiu do nada, atravessando o asfalto para talvez ganhar um abraço noturno, embora visivelmente fosse ele a abrir os braços naquela madrugada.
Foi ele quem lhe encheu de beijos numa noite fria de um ano que custava a acabar.
Disse-lhe, e fez questão de dizer e demonstrar, o quanto ela era importante.
E novamente ele a arrebatou com um beijo inesperado, trazendo o desejo ao topo.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Teresa


Não sabia descrever qual foi a sensação de voltar para a casa, as casas... De um lado, aquela para onde jamais pensara retornar. De outro, a sombra de um desejo não realizado, estilhaçado, arrancado subitamente de si por razões que ela talvez jamais se permita reconhecer.
Sentia saudades desta última. Erguera com tanto carinho pondo em cada canto um pouco de si e dos dois. Mas não havia mais nada de seu neste lugar. Tudo estava sumindo aos poucos, até mesmo o modo de organizar as coisas havia mudado.
Pensou no desejo quase incontrolável que aquele homem tinha de acercar-se de sua ausência. Eram tantas e pequenas coisas modificadas que ela refletia sobre o valor simbólico daqueles gestos, tão evidentes e cruéis. Restava o felino quase sem vida, esboçando com dificuldade um pouco de alegria por reencontrá-la, porque o homem se fora há tempos, se é que um dia esteve ali.
Há quilômetros de distância a outra casa, habitada por quem lhe permitia um sentir-se amada. E eram tantos os esforços que ela pensava em como iria conseguir retribuir tanto querer bem. Mas nada a fazia sair do limbo em que se encontrava. O quarto cuidadosamente arrumado não era suficiente para que retomasse a concentração, encontrasse o equilíbrio e conseguisse dormir em paz.
Não foram poucas às vezes em que na outra casa ela sonhara com o abandono. Acordava suada durante a noite e respirava fundo pelo alívio de aquilo tudo ser apenas mais um repetido sonho ruim. Era a Teresa ao lado de Tomas, com seus medos intuitivos, agora certeiros, tornados mais do que verdadeiros, assombrando rotineiramente os seus dias.
Ela estava perdida na casa, e o quarto pequeno, agora tornado o seu mundo, sufocava suas entranhas, permitindo-lhe uma vontade obscura de fechar os olhos, inexistir...
Precisava, ela, do ronronar daquele felino, do que lhe sobrara da memória afetiva do que viveu ou do que sonhou viver.