sexta-feira, 27 de agosto de 2010

02:49 h

Ele sai às 09:30 h. Ansioso. É o último dia. Já é o terceiro e logo tudo termina.
Não sabe se vai voltar pra almoçar, mas avisa. - Se voltar, te ligo, entendeu? Só seu eu for almoçar em casa, do contrário não vou ligar!
Ela afirma que entendeu, e durante o dia inteiro fica a fazer suas coisas. Dia cheio, mas nem tanto quanto o dele. Não teve que organizar durante meses um evento deste porte. Na verdade precisava apenas colocar as leituras em dia, do doutorado, do inglês, e se preparar para ir mais tarde sozinha num lugar que nem conhecia. É. Já tava na hora de ela se aventurar na cidade. Se forçava, porque vontade...
Durante o dia, ela volta e meia pensava como estava lá, se ele estava cansado, feliz com o resultado de tanto trabalho. Pensou até em enviar um recadinho pelo celular. Por outro lado pensava: sabe-se lá se ele não vai achar pegação de pé.
Fez tudo certinho, estudou, cuidou dos bichos, resolveu deixar ele bem sossegado e não incomodar com qualquer telefonema. Da aventura pela cidade, voltou cedo, mas estava tão quebrada que só pensava em cair na cama.
Ups! O telefone tocava. Era ele, às 22:00 h, dizendo que o dia tinha sido bem legal e que agora todos iam se reunir para comemorar. Rolou um convite: - Vou passar aí pra te pegar! Mas ela tava mesmo cansada, e achava que ele tinha de curtir com os amigos. Resolveu ficar em casa, viu um filminho que há tempos tinham assistido juntos, de romance, daqueles que o final é feliz e que ela fica bem faceira. Também fez um lanchinho, deu comida pro cão, pros gatos. Resolveu ir dormir. Já era quase 02:00 h. Nossa, fazia 16 que ele estava fora de casa, mas como tinha dito que logo voltaria, adormeceu.
São 04:00 h, cadê ele? Devo ligar? Ai que angústia...
São 04:20 h, vou ligar! O telefone chama, chama, chama.
Faz um café, fuma um cigarro.
São 04:40 h, vou ligar novamente! O telefone chama, chama, chama.
Toma mas uma xícara de café, fuma mais um cigarro.
São 5 horas, vou ligar de novo! O telefone chama, chama, chama.
Puta vida, só vem merda na cabeça. Será que aconteceu alguma coisa?
Ela chama o cão para junto dela. Dá mais comida, já que ele não veio em tempo de fazer isso.
O cão fica ali com ela, cheio de saudade, lambendo-lhe a mão. Ela tá tão preocupada que nem liga pra baba dele na pele. Quanta porcaria passa na cabeça. Se ele não voltar até clarear não sabe o que deve fazer. Ligar pra polícia? Achar o telefone de algum amigo que pudesse estar com ele?
Chora!
São cinco e meia da manhã. Finalmente chega. Ela sente alívio. Treme até não se aguentar mais.
Ele entra e se desculpa, diz que passou da conta, mas que deixou o telefone no carro.
Ela pensa: putz, será que era impossível pensar em dar um pulinho pra pegar o telefone, mandando-lhe uma mensagem apenas para dizer que ia mesmo demorar, mas que tava tudo bem?
Fumou mais um cigarro. Tomou um banho e foi deitar. Ele até tentou uma conversa. Mas ela tava tremendo tanto que disse que seria melhor ficar pra depois. Ainda assim, não conseguiu dormir. Levantou da cama uma vez, e mais uma, e mais uma.
Resolveu colocar pra fora o que tava sentido, não pra ele, é claro.
Não entendia mesmo por qual razão ele não lembrou de ao menos mandar uma mensagem pra dizer que tava bem.
Chegou às cinco e meia da manhã. Mas o comprovante do pagamento da conta marcava duas e quarenta e nove. O que pode acontecer entre um horário e outro de tão importante ao ponto de impedir alguém de mandar uma mensagem pra esposa apenas pra dizer que está bem?
Ela ainda não sabia. Passava das onze da manhã e ela se prendia escrevendo isso tudo, angustiada pela suposta resposta que poderia escutar, mas isso se tivesse coragem de perguntar...
É, de fato ela sabia. Sabia que ele tinha saído de casa às nove e meia da manhã e que por volta das dez da noite decidiu celebrar com os amigos. Sabia também que nas exatas duas e quarenta e nove a conta do bar foi paga (e que o bar fechava as portas às 03:00 h). O resto, já não tinha importância... Isso porque ele iria dizer a ela que após sair do bar resolveu dar uma esticadinha com os amigos, indo a outro.
É! Isso de fato não teria tanta importância, a menos que ele não tivesse esquecido de lhe avisar da demora; a menos que ela não tivesse encontrado em suas coisas, a sugestão de algo mais.
Ela sentia-se exaurida. Sabia, que de certo, ele não a amava mais, e temia não ser mais capaz de continuar amando.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Apenas

Ela não sabe o que traz nas mãos, mas a pele arde
Gritaria para o mundo, esse amor, mas a fala some
Está cansada de calar a todos, as séries impunes
E se perderia em seus braços, caso não estivessem longe

Não compreende como foi, meio de lado, entregar-se
Já que ele, ao contrário, não se entregou
Mas eram as súbitas horas que contavam
E passavam e voltavam...

Por outro lado, num outro mundo, reconstruía os sonhos
E quase sempre não conseguia ver razão, deixou de crer
Desejava apenas estar ao lado, sem algo mais
Supostamente e em seus braços, adormecer.