segunda-feira, 15 de junho de 2009

A alma do guarda-roupas

Mais um ano se passou e ela continua resistindo à vida. Está cansada, do corpo, da idade, mas consegue se alegrar diante da possibilidade de viver a vida dos outros, de sonhar outros sonhos. Alegra-se ao ouvir histórias, ilumina-se ao contar as suas. Insiste em querer tudo no lugar, não esquece de dar importância à harmonia das coisas. E mesmo diante da incapacidade de mandar no guarda-roupas de sua alma, que não consegue mais ter suas portas fechadas porque a tranca quebrou com o desgaste do tempo, traz beleza ao quarto. É preciso paciência e compreensão, porque vez por outra a porta do guarda-roupas se abre, atrapalhando o caminho de quem circula por ali. Mas se o armário não dá conta de se manter fechado, deixa que sejam vistas as nuances de seu interior. E quem não se surpreende e se encanta ao percebê-las no despontar da noite, perde a paisagem, deixa de lado o que pode estar para além do olhar.
(Para a vó!)