quarta-feira, 20 de julho de 2016

Teresa


Não sabia descrever qual foi a sensação de voltar para a casa, as casas... De um lado, aquela para onde jamais pensara retornar. De outro, a sombra de um desejo não realizado, estilhaçado, arrancado subitamente de si por razões que ela talvez jamais se permita reconhecer.
Sentia saudades desta última. Erguera com tanto carinho pondo em cada canto um pouco de si e dos dois. Mas não havia mais nada de seu neste lugar. Tudo estava sumindo aos poucos, até mesmo o modo de organizar as coisas havia mudado.
Pensou no desejo quase incontrolável que aquele homem tinha de acercar-se de sua ausência. Eram tantas e pequenas coisas modificadas que ela refletia sobre o valor simbólico daqueles gestos, tão evidentes e cruéis. Restava o felino quase sem vida, esboçando com dificuldade um pouco de alegria por reencontrá-la, porque o homem se fora há tempos, se é que um dia esteve ali.
Há quilômetros de distância a outra casa, habitada por quem lhe permitia um sentir-se amada. E eram tantos os esforços que ela pensava em como iria conseguir retribuir tanto querer bem. Mas nada a fazia sair do limbo em que se encontrava. O quarto cuidadosamente arrumado não era suficiente para que retomasse a concentração, encontrasse o equilíbrio e conseguisse dormir em paz.
Não foram poucas às vezes em que na outra casa ela sonhara com o abandono. Acordava suada durante a noite e respirava fundo pelo alívio de aquilo tudo ser apenas mais um repetido sonho ruim. Era a Teresa ao lado de Tomas, com seus medos intuitivos, agora certeiros, tornados mais do que verdadeiros, assombrando rotineiramente os seus dias.
Ela estava perdida na casa, e o quarto pequeno, agora tornado o seu mundo, sufocava suas entranhas, permitindo-lhe uma vontade obscura de fechar os olhos, inexistir...
Precisava, ela, do ronronar daquele felino, do que lhe sobrara da memória afetiva do que viveu ou do que sonhou viver.

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