segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Que Deus?

Lutava contra tudo.
Contra aquela criança que insistia em não crescer,
Contra aquela senhora que teimava em ficar de pé,
Contra a mulher para quem seu Deus lembrou de esquecer.
Pensava em tanta coisa.
Na garota que descobriu o amor,
Na mulher que se sentiu amada,
Nas fotografias que a fizeram ver.
Queria ser maior.
Esquecer de tudo, como quem perde a memória,
E recobrar a lembrança daquilo que era bom.
Ter força pra agüentar a perda,
Direção para acertar o rumo,
Certeza de um recomeçar.
Mas havia o homem e a sua austeridade,
Que nem mesmo abrigo garantiu lhe dar,
Cheio de zanga diante da morte, e que também por isso,
Deixou de acreditar no Deus que se esqueceu de lembrar da mulher.
E ainda havia tanta coisa...
A amiga, sumindo aos poucos,
O ventre, sem preencher,
As dores que permaneciam,
E o vazio, e o vazio.
Lutava contra tudo e queria ser forte,
Para esquecer das linhas que não foram escritas pra ela,
Acreditar na volta do amor que a deixou,
E tudo isso é nada, diante da história do moço que apanhava da mãe,
Do avô que morreu de lepra, deixando a moça sem um par,
Da mulher que lhe deu a vida, mas acabou envelhecendo e não conseguiu mais ficar de pé.
E tudo isso é nada,
Diante das armadilhas,
Diante da incapacidade de não responsabilizar ao Deus que não crê,
O Deus, aquele mesmo que a mulher tanto acredita,

Aquele mesmo que lembrou de lhe esquecer.

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